domingo, 25 de novembro de 2012

Spread the love

O mais bonito de amar em conjunto é que chega uma hora em que o amor se expande em porções unitárias. E nessa jornada carrega consigo todas as responsabilidades agregadas aos sentidos.

E é aí que entra a beleza: antes do carinho só já fizemos uma oficina da vida em coletivo. Nesse processo aprendemos a falar e escutar. Desenvolvemos o que considero como um das melhores capacidades que podemos ter: a simpatia.

Não é a ser simpático de sorriso fácil, dos que mostram dentes a todo e qualquer - disso até desconfio. É  sim aquela de apreender e aprender nas questões do outro e corresponder num gesto que parece simples, mas demanda muita maturidade emocional, que é o de revelar as questões pessoais e romper com a individualidades dela compreendendo o sentido como universal.

Hoje acho que é disso que se fala quando se quer dizer que ama a um amigo. Não é o amor de aceitar todo e qualquer termo, de histrionismos que justificam histerias sem razão; mas sim daquele que se entende em verdade e profundidade como é estar em outro.

Quanto mais amigos, mais compreensão. Quanto mais isso, menos crises a se preocupar: todas as cabeças pensando junto pensam melhor.


sábado, 6 de outubro de 2012

Confesso que...

Eu que tenho a cara torta, endurecendo de passagem pela vida, mas ainda meio mansa de incompreensão.
Eu que ando a passos curtos, no caminho largo de chão de poças, poços e não possos.
Que já me embrenhei, mas só de leve, num caminho que só leva a outro e que, no fim só o que tem é recomeço.
E que já chorei - e ainda choro - só de ver a fumacinha do vapor do chão no dia do pós-chuva.
E ainda nem me decidi pra que lado posso ir.

Eu que hoje levo na cabeça outros pesos que considerava impossível, mas que largo por aí aqueles que julgava de suma importância.
Eu mesma dessas ideias enrijecidas, como só aos que parecem sábio podem pertencer.
E que só falo de mim pra mim, como se a importância disso viesse num crescente que contorna todas as espécies em relação.
E que tenho umbigo, nariz e braços - que julgo meus, mas que querem botar por aí pra jogo.

Hoje eu caí contra a corrente. Nadei, nadei, nadei e voltei lá pro meio do cardume. Que desconforto!
Porque, sinceramente, aqui tá todo mundo junto, nadando a um compasso só. Mas o que querem mesmo é cada um pegar aquele pedaço de pão velho que aquele misto de sombra com brilho torto parece jogar.

A solução, por um instante pensei, seria arranjar uma espécie de lente deformadora pra tentar parecer sombra e brilho torto. Mas aí, pensei de novo, se é só pra ter o pão velho, prefiro cansar de novo e tentar o caminho oposto.

Não é possível que a correnteza um dia não cesse. Ou pelo menos descanse.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

De antemão: já é saudade

Do que mais gosto e ao mesmo tempo odeio são desses pedacinhos de memória que me enchem em turbilhão de sentimentos e desaguam no transparecer da lágrima de um até breve! com a tonelada de um até quando?.

Até aqui, tudo em breve. Todo tempo junto é raro - e por isso valioso. Cada minuto é sentido com a precisão do tempo contado, mas que vai passando com a leveza do vento e que, quando cessa, vira furacão dos que levam tudo - até gente.

E gente pesa. Pesa muito. Porque gente não é só corpo. Sequer gente é só sentimento. Gente é tudo junto: com presente, passado, futuro - e todas as flexões, reflexões, conjugações e combinações possíveis. Gente tem memória e senso crítico. Gente tem sentido - e é controverso. Gente imagina, reflete, pesquisa, se engana, acerta e duvida: só pra imaginar de novo. Gente não para em pé, porque precisa deitar - e tampouco para deitado, porque sentado não dói as costas e correndo é bom pro coração.

E o que é o coração, senão o órgão que mais pesa quando todo o sangue chega pra ser bombeado de uma só vez só, porque na verdade quer é fugir do corpo e jorrar por todo o tempo-espaço em que está submetido a pressões de saudade. É, podem dizer o quanto queiram que é o cérebro, mas o que sinto mesmo funcionando é o peito - e um poco da barriga, cheia de borboletas.

Mas aí é outra história...

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Justificativas

Encarando o pensamento que tenta reduzir à comunicação verbal o gesto primordial de carinho, imploro: jamais tente viver só dela. É um princípio que só tende a desenvolver enganos, desgastes e desgostos. 

Primeiro porque quando começa tudo num entendimento tão falho que há necessidade de perguntas, alerta 1: já começou errado. Segundo que, quando pra desenvolver afeto é necessário justificar em tópicos o que é carinho, alerta 2: não vai agradar. E terceiro, ainda mais cruel, quando da incerteza, que certamente a dubiedade das palavras acarretou no peito como sentimento profundo e intrínseco à relação, e então o diálogo revela-se um monólogo enfadonho (dado o vazio em resposta que tende a palavra zero), alerta 3 (e vermelho piscante): acabou.

Mas repara: o problema não é a palavra - ela pode ser linda, bem vinda e super bem colocada - mas a necessidade infinita dela. Demonstrar carinho não é explicar metodologicamente o que é carinho. Revelar vontades não requer um manual de montagem listado dos desejos. 

Um corpo pulsa. E aí as mão se posicionam, os joelhos se encontram, os peitos se encaixam, os olhos brilham, o braço passa sem que se incomode, a cabeça recai no ombro. Olhar... olhar torna-se inevitável. E não está presente só na visão, a pulsação permite o olhar do toque, do cheiro, do ouvir, do sentir. 

E aí você entende que quando se sente mais que se pensa em falar, o caminho é certo e a poesia é autoportante.

domingo, 3 de junho de 2012

Habitat Natural

E eu moro bem aqui, horizonte a frente. Há tempos sento olhando a linha perguntando se é de paralelas infinitas que o mar se toma. Há tempos me guio por um norte pra ver se o horizonte me toma numa cruzada de caminho sem volta.

E não toma.

Hoje eu sentei numa faixa que não é mais de areia. Olhei pra frente e o que tinha já não era mar. E me perguntei se o caminho das nuvens ainda era possível. Se o abismo do céu ainda suportava o peso de mais um corpo que se jogava, ou se o fato de ser peso não era mesmo (como antes suspeitava) um problema do ar.

A resposta: um raio e uma nuvem preta revelando em cores e cobrindo em chuva metade do que achava ser uma sombra no céu. E a surpresa: não era sombra, era sólido. Não era treva, era caminho.

Fui ao sul revelar o que não é mais horizonte. O caminho, ao contrário do que indicavam as pedras, ia por elas, com elas, sobre e sob elas. O caminho não era mão única - dessas monótonas, solitárias e cheias de questões de obediência - mas dispersa, variável, mutante e coletiva. Não de um coletivo que despreza a palavra de apoio, o zelo do amigo, o reconforto do desabafo. E público.

Nesse dia entendi que estou em terra firme e agradeci por não ser a distância o oceano. Pelo menos por aqui eu posso andar - já que eu não posso e nadar eu não sei.

E a chama acendeu. 

sábado, 24 de março de 2012

Desmemória

Acontece o silêncio.
...
...
...
Acontece o silêncio. Atordoa. Bate-volta-bate-volta-bate-volta-bate.
.....
Ainda acontece o silêncio.
De perguntas, de quereres, de cobranças.
... Silêncio agudo, faminto, decidido a perturbar.

É o barulho todo aqui de dentro: não me deixa pensar.

E, da implosão dos saberes, acontece o silêncio.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

E não é que chegou?

E já te olho em tão prazeroso encantamento que já nem mais assusta. Um assombro que corre por longe do peito, que figura como um rasgo no horizonte só pra se mostrar existente, mas que sequer se atreve a encostar: sabe que o momento é mágico.

A latência no peito já não é mais sinal de alerta.

Há tempos procuro racionalizar e traçar a fino bordo a linha que justifica as intenções nas relações. Fiquei anos perdida num labirinto em que, a princípio, por acreditar piamente no meu poder de localização e assegurar a mim mesma que naquele espaço-tempo o manejo era simples e lógico, dei muitas voltas em um mesmo quadrado vazio (mas repleto de informação) crendo que dali muitos frutos colhia e muita sabedoria - dessas que achava que já se nascia sabendo - perpetuava.

Quanta infantilidade.

Hoje acordo já sabendo que é dia novo e que de passo em passo o que chega em mim é autêntico. A vontade é seguir em frente, deixar os pés caminharem por si só e, mais uma vez, me levarem a um desconhecido tão positivo quanto o fizeram nessa última jornada. O sentido chega positivo, apesar das circunstâncias, muitas vezes pelo contexto local, sejam de negação.

E lá se foram duas semanas intensas de sol. Não caiu uma gota sobre mim.

Em acordar sou só sorrisos. Em dormir, só esperança. Em viver sou sonho. Em seguir tenho forças. Em repousar, a espera. Em caminhar, o sentido. Em viver, inquietude. Em esperar, esperança.

E ainda sigo assim. Mesmo que haja encalço te tempo e distância. Ainda sigo assim, de olhos que brilham e peito que brinca.