terça-feira, 27 de julho de 2010

Já criou raizes

E nem é que tenha sido surpresa. Ao menos não das grandes. Muito menos das inéditas - já que num curto espaço de tempo todas as decepções pelas quais jamais achava ser possível passar vieram. E foi assim, numa passagem rápida, dolorosa e rodeada por escândalos.

Pelo menos dessa vez soube gritar. Não do grito incessante, trincado, agudo. Mas daquele sincero, amargo e racional. E entenda: amargura não é de todo ruim. É só força que bate pesada, numa quebra de expectativa, e depois adoça, gera a leveza.

Só que o trabalho chega na inconstância dessa leveza. É assim como se sentimento fosse coisa que se pode jogar pelo ar. E aí vai, levado pelo vento, numa cadência flutuante, num movimento entrecortado, num ziguezague impertinente. E entenda a força: incômodo.

Mas aí é que nem sabe mais de que modo agir. Compreende que a insistência é caminho chato, então pondera. Concorda que passividade é caminho burro, então ameaça corrida. E aí absorve a relatividade como caminho chave, então vacila. Um titubear desses que não ajuda. E os caminhos entrecortam-se todos.

É então que para e pensa: isso aqui está confuso. Escrito para dois destinos além do pessoal. E são destinos impossibilitados. Mas não da impossibilidade concreta do não amar, e sim do espaço e tempo. Cada tempo é um tempo, sabe. Mas o espaço é limitante cruel, abusivo, encrustado. Não que em todas as vias seja ele o problema. De modo algum - o segundo mora ao lado.

A questão é que os limites que impõe a si são barreiras intransponíveis. Ao menos enquanto acredita.

domingo, 25 de julho de 2010

Não, não foi tranquilo.

Já tentei encarar, mas não é possível: "cérebro maquina, palavras, sentidos, corações". Isso é a verdade. E nada de tentar encarar as outras perspectivas: me peguei encontrando significado em qualquer letra que tenha no sentido um pouco de pesar. E é exatamente dessas conclusões de razão confusa em função de trabalho constante de impulsos.

E o pior: impulsos estimulados por fatos vários. Vários, reais, confusos e aleatórios. De um modo tão sutil que gera culpa. Daquelas culpas que nem se sabe de onde vem ou se vão. De pedir perdão pelo que não fez e até pelo que faria. De impulso impiedoso dos que geram a paralisia.

É então que entendo que o mais estranho de uma dor é o esforço tremendo que se tem em não mostrá-la. E esconder assim não é por medo do sofrimento moral, mas das circunstâncias que um mostrar-se demais poderia gerar. Não que também sejam todas ruins, no entanto boas pra um peito cheio de orgulho certamente não são.

Aí que chego no ponto da vaidade. Essa é minha: é verdade que não chego a criar mentiras externas, mas confesso a existência de auto enganos. Desses que, se externados, passariam despercebidos e mesmo encarados como realidade absoluta. O que geraria medo, confusão, distúrbio, delírio. E aí a volta da máscara do medo. E a transgressão de uma vaidade máxima, dessas a que se olha até com certa pena.

E de novo grita em queixa. E de novo dorme inquieta. E de novo nem um olhar de apavora mete. E de novo me sinto besta. Sem querer o sentido da auto destrutiva, por favor.

sábado, 10 de julho de 2010

"Nada tem que dar certo
Nosso amor é bonito
Só não disse ao que veio
Atrasado e aflito
E paramos no meio
Sem saber os desejos
Aonde é que iam dar
E aquele projeto
Ainda estará no ar..."

Eclipse Oculto, Caetano Veloso

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Da hora que deu por si

É que às vezes dá raiva. Raiva grande, abrupta, cruel, ilícita. Dessas raivas de gritar, rasgar, correr, bater. Uma raiva que não cabe, não mede, não mora. Uma raiva irracional.

Não que algum dia a raiva ande de mãos dadas com a razão, mas é não no sentido de paixão. É uma crescente múltipla de pensamentos vários sobre um ponto que sequer cabe pensar. Dessas raivas repentinas de sentidos vários e nenhum. Uma raiva de não saber.

É que às vezes dá medo. Medo forte, intrometido, revirado, desumano. Desses medos de tremer, observar, fugir, esconder. Um medo que fere, doi, assusta. Um medo incondicional.

Não que alguma vez o medo busque condições, mas é que busca subterfúgios. É uma base de corpo não sólido montada sobre uma pilha de rememórias inexistentes. Desses medos renegados e absorvidos. Um medo de refazer.

É que às vezes vem a histeria. Histeria alta, corrida, desmedida, interna. Dessas histerias de arrancar, pulsar, fruir, transcender. Uma histeria que quebra, corroi, ttransborda. Uma histeria arrebatadora.

Não que alguma forma a histeria passe dos limites do não, mas é que só chama atenção. É um chamariz de forma tensa numa ambiência de sentidos que se repetem. Dessas histerias caladas e difundidas. Uma histeria do saber.

É que às vezes vem o não. Não prisão, não concentimento, não conformação, não afirmação. Desses nãos que fazem crescer.

Assim espero.

domingo, 4 de julho de 2010

Confesso

A verdade é que o que sempre busquei foi a incompreensão. Não daquela explicita, que profere as burras palavras do não entender. Mas daquela de mentira inteligente, esquizofrênica, agressiva, que não se aceita como tal. Sempre quis causar algum distúrbio.

Talvez assim consiga entender essa mania de enjoar de tudo fácil. Que é fácil e de modo fácil. Tudo bem, não é um enjôo assim abrupto, acho até que demora um tempo - o que pode dar a falsa ilusão de teimosia. Mas também não ultrapassa os limites do não querer. Se é dito não, acabou.

Pois então, no dia em que resolvi dar o último não, parece que foi um fim definitivo de uma fase. A fase de saber estar no topo das relações. Desde então, a única coisa que consigo fazer é repetir o questionamento. Voltas e voltas em cima de uma mesma questão, de um mesmo ponto que, analisado friamente, já é passado. Mas não, esse é o novo momento: o do aprender a viver conjugando o platonismo e a submissão ao que já julgou nada. Pode parecer antiquado, eu sei. Mas é que acho que comecei a vida do avesso: sem medos.

É bem verdade que esse suor frio já apareceu algumas vezes. Sempre odiei. Só que dessa vez pareceu bonito, junto com a taquicardia, a mudez, a tonteira e as ações de criança boba. Nunca me pareceu real a existência desse estado, sempre achei besteira. Errei.

E como é bom um tropeço! Não dos tropeços falhos, que se sai xingando sem sequer ganhar ferida de cicatriz descente. Mas daqueles fortes, dos que caem do alto em superfície não plana. O tropeço do atrito, não do escorregão. O tropeço de criança, que não tem equilíbrio e se joga. E seja como for: a dor ainda não é conhecida.

Já comecei sem medo. E agora já não sei mais se foi por não amor ou amor demais. Fui criança plácida, de choro curto e discurso infalível. Olhar psicótico, movimentos leves mas exatos e sentidos corretos. Comecei numa calma incompreendida pelos que ainda não sabiam de sentimento. Talvez por isso mais semelhante aos adultos tão distantes do grupo ao qual pertencia mas odiava. Já comecei adulta.

E foi um crescimento falho, já que a falta de medo não deixou aprender que nem tudo pode dar certo. Mas tudo bem, esses dias eu senti. Toda a inocência caiu pesada e quase me fez desmaiar. E foi desses desmaios físicos mesmo, dos que mente não controla e sentimento brinca. Os sons pareciam sumir, imagens voar, vento cessar, bala acabar e tudo que vinha era o seu cheiro. Um cheiro desses que se sabenão existir em nenhum frasco de químico.

A verdade é que dessa vez fui surpreendida. A incompreensão não foi proporcionada por mim. Bem verdade que nem por ninguém. Mas só pra constar: hesitei sem querer.

Que venha mais uma vez.
"Deixai que os fatos sejam fatos naturalmente
Sem que sejam forjados para acontecer
Deixai que os olhos vejam os pequenos detalhes
Lentamente deixai que as coisas que lhe circundam
Estejam sempre inertes como móveis
Inofensivos para lhe servir quando for
Preciso e nunca lhe causar danos
Sejam eles morais físicos ou psicológicos"

Corpo de Lama, Chico Science & Nação Zumbi