quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Quem foi mesmo que disse ser o futuro coisa a não se pensar?

Mesmo fazendo todo o esforço, parece que todos os pensamentos e repensamentos foram jogados fora. Não por causa de surtos temperamentais que, com o perdão da palavra, causam esporros internos, mas sim porque esquecer o que passa parece ser abertura do entender o que vem.

Não que fosse pra ser assim. De modo algum. Até porque, há certos dias em que o acordar é quase um baú de tralhas que traz à tona toda aquela parafernalha escondida por debaixo da epiderme empoeirada. E aí, pensar em outros tempos que não o pretérito nem é coisa que se passa pela cabeça.

Pois bem, vinte anos pesam.

Nem parece que é muito. E, na verdade, não é mesmo. Poderia ser mais, mas o medo e as falsas expectativas de amadurecimento precoce estorvaram a naturalidade do que é crescer. E, assim, me fizeram acreditar na não importância do futuro: ora, o futuro era eu! Assim precoce, aparentemente desafiadora e sem medos.

Pois bem, o passado era coisa bonita, o presente um futuro e o futuro desimportante.

E agora vem por aqui aquela inquietude que, se há um tempo, seria só tristeza passageira. Mas hoje, sei que é a desilusão do tempo.

Só por hoje...

sábado, 29 de novembro de 2008

Acordei ontem à noite num susto. Não daqueles pequeninos que te fazem respirar fundo, sorrir e voltar pro sono. Mas também não era do tipo pesadelo, dos que acabam com a noite.

Não.

Acordei ontem à noite num susto. Não daqueles que te fazem levantar, acordar os pais e dormir junto deles. Mas também não era do tipo isso passa, dos que retomam a noite.

Não.

Acordei ontem à noite num susto. Não daqueles que te fazem lembrar do dever, suar frio e começar o trabalho. Mas também não era do tipo mudança, das que pedem o andar pra frente.

Sim.

Acordei ontem à noite num susto. E até agora não sei o porquê.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

A um Amigo.

Porque já pensei demais antes de fazer. E foi assim um pensar de medo do conhecido - É, porque desagradar o conhecido é muito mais fácil do que perceber o desgosto mascarado pela boa educação do desconhecido.

Mas, liberta.

Já se foram quase três tempos.

Tudo bem que, do lado de cá, parece eterno. Engraçado que esse tempo, se contado em distância pouca, era quase nada.

Não que não valesse a pena a presença - que, por sinal, grande presença - mas é que a gente nunca sabe que falta a distância pode fazer sentir.

Não que seja só a distância - porque, desse modo, seria fácil o subterfúgio da amizade.

Não, não é. E a dificuldade de expressar é representante disso: do não saber explicar de onde isso tudo vem.

Vi suas fotos hoje. Tinha um olhar distante, mas feliz. De corpo, parecia bem. Uma beleza que, se vista há uns tempos, seria desapercebida.

De verdade me fez bem.

Lembrei dos tempos em que sonhávamos em cada pedaço de imagem - daquelas de vinte e quatro quadros por segundo mesmo - e queríamos que tudo aquilo ali pudesse ser realidade. Mas depois, num súbito de consciência, entendíamos que tudo parecia mesmo fantasia.

E gostávamos. E gostamos.

Não sei o que espero daquilo que vem, mas sei que é ainda mais vida do que foi. E olha que realmente foi.

E que saiba que me inspirou assim. Desde o início.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Como se fosse a última

Tudo aqui parece assim tão pouco, tão baixo, tão cheio de nãos.
Tudo aqui parece assim tão cheio, tão fora, tão cheio de vás.
Tudo aqui parece de um jeito que não deveria ser.
Tudo aqui parece de um jeito que eu não queria ter.

Mas como?

É meio assim sem querer. Uma falta de poesia, falta de sentido, falta de idéias.
É do tipo sem querer. Mesmo.

Parece tipo assim fora, sentido, ser.

E então as voltas não parecem entendidas.
E eu penso: eram pra ser?
E eu penso: por que eu?
E eu penso: por quê?
E eu penso: sei lá.

E então me vem você e me diz que não era pra ser assim, tão primeira pessoa.

E, quer saber?
Não te respondo mais.

sábado, 16 de agosto de 2008

Pensamento do Dia

Até que, pensando bem agora, não foram assim tão desesperadoras as horas. Tentaram porque tentaram fugir por entre meus dedos trêmulos, mas acho que não conseguiram. Que bom. Acho que por isso, pela luta contra e pelo fim a mim enfim vitorioso, fico assim aliviada.

Depois, o que houve foram os pensamentos. É que todo dia (ou uma simplificação disso) posso passar pela rua que há tempos atrás tentei fazer com que se chamasse “Do Pensamento”. Vã tentativa. Isso porque percebi que nem sempre ela disso poderia ser, uma vez que assim só seria caso não houvesse companhia. É uma dessas passagens que só se consegue entender se partiu de si – então não vale a pena citar. Não é nada demais mesmo... é só espaçamento de casas fora do comum por onde se vive, com asfalto largo onde passam carros que sequer se esgueiram a fim de bisbilhotar a calçada, que, aliás, diga-se de passagem, é mínima e força contato físico se algo vem na direção contrária, além do cheiro de fezes. Mas, veja bem, não é qualquer, é cavalo. Cavalo urbano, mas cavalo.

Foi que então passou pela placa de “Vende-se”. Na verdade, esse comentário passou pela cabeça, mas importância mesmo não teve (nem tem) nenhuma. A não ser pelo fato de que uma mudança assim do tipo brusca anda (e muito) fazendo a cabeça. Não que seja prejudicial para alguém ou algo, de modo algum, é só por si. O que se entendeu então foi em questão: “onde mesmo foi parar a tal casa de janela amarela?”. Nesse momento, nada mais sabia. Nem pensava. As companhias, nem em número, nem em grau nem consciência estavam e sequer queriam estar presentes. E, no entanto, a vontade de se sentir andarilho e desbravar o mundo era mais que grande, imensurável.

Foi então que resolveu voltar para casa. A pé.

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Desarranjo

Dois pedaços desse doce e a boca já ficou amarga. E não foi amargo de doce - o que seria uma indiscrição sem tamanho - mas pareceu de dia.

De dia não: de momentos.

O que me permitiu sentir o cheiro acre na amargura do doce foi, já me lembro, a falta do passado. Daquele em que o sabor pouco importava, cheiro ainda menos. Daquele em que pedaços pequenos de pedrinhas passavam despercebidos pela boca quando o que se tinha era mais feijão (nada doce, mas bom).

Mas, esqueçamos o passado. Me diz, sente também essa amargura? Porque, pensei, poderia ser amargura de beijo, daqueles que pouco se importam se duram ou não. Ou mesmo, amargura de sonho, daqueles que já foram tão bonitos, mas que hoje, se falado, viram pesadelos.

É, eu sei. O tempo muda, a gente muda. Mas não é dessa mudança assim sofrida que falo. É do tipo amargo, acre e doce. Assim, mistura inaliável, mas que sentida como o mais forte dos sabores, cheiros e tudo mais a que se possa juntar de modo a ter sinestesia completa - se é que existe.

Em verdade, nada poderia ser passageiro - até o dia de hoje. E passou assim como se fossem dias. Mudanças e desmudanças. Mas, no fim, ruim.

Sentimento ruim.

A intenção não era amargar de tudo o gosto, mas conseguiu. Três palavras e meia e tudo mais desceria rio abaixo.

Não foi o dia ruim. Foram os momentos.

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Se me permite dizer: te amo.

Ontem, em meio às águas sujas da nostalgia, três minutos e meio me permitiram dizer que sim. E foi um sim sincero, daqueles que, se há alguns anos atrás, teriam sido dados com uma certa relutância - é que no passado as negativas sempre foram mais sinceras.

Ontem, em meio aos passos fundos do pessimismo, uma lágrima de ternura me permitiu dizer que sim. E foi um sim desses que surpreendem, te jogam na cama e fazem rir. E foi um riso mais que sincero, daqueles de criança brincando no balanço. Surpreendeu. Isso porque, desse modo, há tempos não via (mesmo que para dentro).

Ontem, em meio à febre de quase quarenta graus, o sentido de delírio foi mais que real. Foi do tipo de delírio sincero - e, se não existe assim, foi a sinceridade inédita do delírio - e que me permitiu dizer que sim. Um delírio desses em que a cor é aspecto importante, mas a profundidade cria abismo para ser pulado. E, se é assim, te permite asas grandes e rubras , que é pra ser admirada.

Ontem, num dia quase hoje, eu voltei com a vontade de dizer que sim. E que foi uma vontade junto com a agulhada no peito - se me permite dizer saudade - que me disse que eu poderia te falar: AMO.

É que há tempos que já falo, mas ontem veio com a impossibilidade de te ver.
Aqui no peito não é dor nem falta.
Aqui no peito não é ódio nem paixão.
Aqui no peito não é cor nem tremor.

Não.

Aqui no peito é amor. E saudade.

sábado, 17 de maio de 2008

Remembering

Se é que pode ser chamada de vontade, então que se faça. Três ou quatro vezes - não importa. Mas o que realmente trouxe aqui, talvez, não tenha sido só vontade (até porque, se assim fosse, nada disso seria).

Então, o que se sentiu: punho direito, dor intensa. Esquerdo - se é que pode ser só lado - punhal. Afiado e sensitivo - além do que, se a si guiava em direção ao estufado e enorme peito em chamas, há quem possa dizer que ali uma nacada de vida existe. E, já que foi assim, não se pode negar.

Talvez esse pedaço inerte de vida (assim mesmo paradoxal) tenha desse modo se tornado na junção do agregado de repetições a que se vive o de fora. A dor direita do tentar demais e esgotar demais, a esquerda - que já também se assume como dor - em seguir recuando sempre sem saber o rumo, já que recuo é traseiro e impedido de virar.

Pode até ser que seja só um reviver memorial no passado não tão distante, no qual havia sim dor - mesmo que sem sentido. Aliás, quem foi que disse que para isso há sentido? E quem disse que ela merece ser tratada como isso? Não que seja necessariamente bonita ou mesmo de se admirar - pois há quem faça dela sua maior virtude - mas sim da complexidade mais fácil de se explicar. O tremor das mãos falam por si só.

Não, não é para entender ou ser entendido. Ou, talvez, a maior vontade mesmo é que o seja. Apesar de não existir. Mas, afinal, não é melhor sentido inventado que sentido não entendido?

Mas então, de que adianta estar aqui - já que, ao recuar, o passo para trás é o avanço necessário ao que se busca? Não, não assim. Não desse jeito. Não desse modo de agir.

quinta-feira, 27 de março de 2008

Sequidão

Os olhos secaram mais uma vez. De mal dormidos, de mal sentidos, de mal vividos, de mal de males. Houve tempo em que não se ligava para a secura quase árida de retina, tal que passava despercebida por corpo e forçava-se a funcionar no precário estado que se encontrava. Mas, um dia, outro como este, parou. Foi de tanta que falhou definitivamente - ou, pelo menos, achava que era. Na verdade, ainda não se sabe bem ao certo se houve acomodamento e bem-estar com a nova característica ou se mesmo melhorou. Mas o fato é que os olhos, novamente, secaram.

sábado, 15 de março de 2008

Submersa

Doze horas e meia correndo contra o tempo. Doze. Horas. Meia olhada, encharcada e mais que suada. Doze. Horas de sufoco, apreensão, corrida sem poder e olhar pro céu cinza. Doze de doses de dor nada homeopáticas. Disso foi sexta.

A cabeça que puxa, as pernas que engolem, o sono que consome. Três das doze foram em engarrafamentos e sujeiras de conversas constipadas e sem sentido. Porque o que há de pior é sentar onde não se quer, mas se deve. E eu fui obediente às regras da boa educação.

Saco.

A cabeça caiu, as pernas sumiram e o sono, enfim, conseguiu.

Ainda bem que houve risadas.

segunda-feira, 10 de março de 2008

It ain't me, babe.

Não foi esforço em se falsificar - e eu não vejo nada de errado nisso.
Não foi vontade de se mostrar maior que ninguém - e eu não veria por que discordar.
Não foi show - eu diria espetáculo.

A vontade dele foi que o assistissem e, no fundo, tive que concordar que sempre deveria ser assim. Por mais que a gente goste e queira ser igual, não há por que achar feio o inédito.

Sim, foi rouco. Sim, os anos pesam. Sim, o sopro cansa. Sim, a gaita toca. Sim, a melodia muda. Sim, os olhares fogem. Sim, foi lindo - por mais que discordem.

Apesar dele dizer que não, estava lá. Em terno, sapato e teclado. Esguio, sério e brilhante. Não pelo palco, mas por si só. Por sua poesia - que encantou, encanta e ancantará muitos - e por sua verdade.

Não precisou de obrigado falso - quem agradece é o público.
Não precisou dançar na melodia cansada - a nova foi maior.
Não precisou pedir por mais - o que houve alegrou em sinergia.

E, se o que alguém esperava não era isso, concorde com ele mesmo: "It ain't me you're lookin' for, babe."

BOB DYLAN - It Ain't Me Babe

sexta-feira, 7 de março de 2008

Me perdi.

Foi por vontade que cheguei. Pensei. Foi por vontade que fiz. Calei. Foi por vontade, mas a idéia acabou.

Por enquanto.

Pois bem, apresentação de sem-idéias-só-por-hoje. Até porque, apresentar-se requer uma dose de formalidade - mesmo que informal. E, já que não é se apresentar como ser único, deixa pra depois.

Impessoal e involuntariamente,

Nós: Tigre e Dragão.

Nota: Dragão Caqui só.