terça-feira, 27 de abril de 2010

"Deixe em paz meu coração
Que ele é um pote até aqui de mágoa
E qualquer desatenção, faça não
Pode ser a gota d'água..."

Gota d'Água, Chico Buarque

Depois daquela noite

Do que é misto de medo com vontade.
Do que dói com desejo.
Do que sente com calor. E frio.
Do que chega de mansinho, querendo nada.
Do que sai de sopetão, abandonando palavra.
Do que me lembra mar.
Do que me trouxe sol.
Do que acariciei horas sem sentir.
Do que proferi palavras vãs - o amor é real.
Do que desacreditei.
Do que relutei.
Do que fugi.

Pro que vou correr sem medo e com vontade.
Abraçar em braços de acalento na chuva ou no sol.
Segurar a mão que chega leve.
Bradar ao ventos que não se vá.
Mergulhar profundo.
Deleitar em cada minuto.
Sentir nos dedos a pele.
Reafirmar promessas.
Descumprir palavras antigas.
Receber sem titubear.
Amar.

Só mais uma vez...

domingo, 25 de abril de 2010

Com as armas de um olhar

Que é santo escolhido já é de bom tamanho saber. Que escolha é fruto de sincretismo, melhor ainda. Mas que entender o quão mágico se torna o movimento - uma vez que ceticismo sempre fora promulgado requisito básico de pensamento - isso sim importa.

Sete vezes arrepiou. E não foi de arrepio visual - já que nunca creditou as pinturas simbólicas do azul celeste em composição com dourado. Tudo bem que vermelho sempre foi cor que marcou, mas o sentido não estético, é físico. E também não é um físico moral (e muito menos ditador). Mas, o que importa é que não foi isso. Arrepio de sentidos, jogando fora angústias.

E não, não é arrepio de devoção - disso nem em infância cristã teve o direito de apreder.

É, na verdade, uma mistura de tudo - talvez. Do poder olhar à sua volta e entender que, apesar da sujeira, das lágrimas ricas da gente pobre, do calor das labaredas, do significado das cores em cera, da importância dada a cada fósforo que risca um pedido, tudo isso é um pedaço do máximo de beleza que pode surgir do ser humano. Sim, é de olhar pessimista sempre achar que se vem de nós beleza pura não há. Mas é que sempre aprendeu a olhar assim: foi guiada dentro dos moldes do que é justo, de entender dois lados de uma mesma moeda, de justificar mal com bem.

Eis que se cobre abruptamente com o véu da vergonha. Vergonha de ter acreditado sempre que as fés são mundanas e que sempre há sujeira por onde passa. Vergonha de ter se iludido numa razão que sempre se auto ordenou como sentido único e não crente - o que, por fim percebeu, não passa de um pequeno e mesqunho ato de promoção de fé própria. Vergonha de ter injuriado todo ato de bondade e depositado nele toda a proposta da ganância. Vergonha de ter crescido lendo escolas, ouvindo boatos históricos e reproduzindo repensamentos. Vergonha e mais vergonha daquilo que sempre acreditou correto num ceticismo crente.

Segurou bem na ponta do véu num sentido de arrancar. Cinco vezes repensou. Dois dos pensamentos seguiram a lógica do acordar e gravar no olhar as imagens do dia. Seleção. O véu foi mais forte: envergonhava-a do fato de querer censurar o mundo em compilações pictóricas diárias. Sabia então que arranccando véu, arrancava a própria cabeça - o que não considerou de todo mal.

Mas é que, no fim, ela sabe muito bem que São Jorge lutou, mas que não há dragões no Brasil.

domingo, 18 de abril de 2010

"And a crowd of young boys they're fooling around in the corner
Drunk and dressed in their best brown baggies and their platform soles
They don't give a damn about any trumpet playing band
It ain't what they call rock and roll
And the Sultans... yeah the Sultans play Creole"

Sultans of Swing, Dire Straits

quinta-feira, 1 de abril de 2010

"Você só dança com ele
E diz que é sem compromisso
É bom acabar com isso
Não sou nenhum pai-joão
Quem trouxe você fui eu
Não faça papel de louca
Pra não haver bate boca dentro do salão"

Sem compromisso, Chico Buarque

Dos sentidos

Porque é até engraçado pensar que a a negativa é, na verdade, prerrogativa de convencimento. Porque se se diz um não num momento em que se espera talvez, o desafio é lançado sem muito esforço e tudo que se tem que fazer é acreditar ou não no que se quer.

Mas eis que surge a desvantagem: quando não se quer o que se encontra. Quando de argumentos convincentes discurso de corpo oposto é composto. É então que a fraqueza aparece - uma vez que de esforço real nunca foi preciso e, portanto, a falta de exercício.

Se pegou lamuriando. Das lástimas que, à priori, acreditou jamais poder sentir. E mais: só era capaz de fazer sentir. Nunca para si, mas de si para o mundo. Um mundo que caiu repartido em dois corações e uma cobra. Agulhada venenosa.

Avançou sete passos e sentou de novo à mesa: não acreditou na dor do peito. Repensou e aliviou. Três segundos mais e o peito explodia tão forte que nem a força do mantra "tudo passa, tudo passará" conseguia aliviar. O que dizer então de parar. Jamais.

Descobriu então o que é sentimento forte e real. Um ciúme.