segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Outra vez mais eu queria escrever sobre sentidos que só eu sei, ou acho que sei. E ler com voz de quem sabe o que diz e sente o que se quer que sinta. De verdade, quero ser atriz. Não que já quisesse há dois minutos, há três anos ou uma década. Não. Mas é dessas coisas rápidas que passam pela cabeça - assim como a história da criação, o sentido da vida, a busca da felicidade, o encontro do amor, a beleza da morte, a sorrides de um sorriso, a verdade de um olhar, a agressividade de um balançar de mãos. É coisa que passa, mas de pouco fica.

Assim como ficam as ideias de querer mundo, de querer vida, de querer paz, de querer justiça. É coisa que passa, mas fica. Confesso que há tempos não consigo ler jornal. Pode ser preguiça, ou só desilusão. Todo dia tem uma morte. Pode não ser absoluta, mas é morte. ainda: morte coletiva. Numa repetição em ciclos de mortes, mortes iguais, mortes diárias, matutinas, na frente de todos os olhos. O problema é que os olhos já estão cansados, olhos de velho, que já precisam de ajuda pra ler de perto. Olhos que já perderam a lágrima e até mesmo aquele fervor de raiva. Não ficam mais vermelhos ou marejados. Esses olhos, que um dia já acreditaram ser o brilho coisa que se ganha, não que se é. E não que necessariamente a velhice seja por tempo, mas por vida. Uma falta dela. Não por tristeza, mas por desesperança. Todo dia eles leem e já começam descrentes.

Acho que tá na hora de mudar. Só um pouquinho.

This fear kills a heart

Never been reduced, never felt awkward, never seemed creepy, never tried hard, never chewed on foolishnesses, never got empty, or full. Never was real.

Always made multiples choices, always followed the right ways, always saved time and trouble, always caught all the chances. But always ran away on the right time.

Never told what should always be said. Always did what couldn't never be done. Have been reduced in multiple choices feeling awkward for follow the right ways even if seemed creepy, just to save time and trouble and don't be necessary to try hard and get all the chances looking like a fool and run away just to get full of emptiness on the right time just to pretend not to be real.

That's the point. Or the circle. Depends on distance (and what kind of).

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Arrepio irreparável

Todo dia acorda pensando em doar-se. Doar-se a quem, doar-se a que, doar-se ao qual. Sequer reage às questões não retóricas, - as que exigem explicação - apenas caminha. Passo e passo e já nem mais se importa se é paixão, orgulho ou vaidade. Acorda dia e dia, peito acalmando no passar, olhos ofuscando-se no perder, peito inchando no lembrar. E, não fosse peito, tudo que restaria era semblante de ilusão. Dessas perdidas imperdoáveis, irreparáveis, intransponíveis, irresponsáveis. Aquilo que jamais quis apareceu. E foi de uma importância espontânea, sem sentido e nem mesmo rancor. Apareceu num rasgo, pousou saudável e voou longe, como se nem tivesse pisado. E foi um toque. De leve, mas toque. E toque leve causa arrepio.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

All the clouds'll roll away

Once again that next door's friend tries to figure out what that lack of meaning honestly is. It is said "honestly" because in other non truly ways it seems always so easy. Not for the causes, but fallouts.

Since that other day, when be seated on a corner just waiting for the image of hapiness below tearful eyes seemed as ordinary as asking please to strangers, he couldn't say people made him happy anymore. But see: nobody was responsible for that. Actually, no one could even feel how erroneously they were acting just staring and giving smile, or simply resembling friendly. All of those face-eyes were driving him crazy. And still do.

Madness never was reason for ifs, ands or buts. Friendship never was subterfuge for hapiness. Nor the opposite. In other words: thinking of it, a smile-faced world, was not the right way of thinking a life trouble.

Then he opened his book once again, on a random page: he has no more reason to try some linearity. Nor in life or thoughts or relations. Three in one.

Take a look to the sky.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Platônico

Quanto mais em falta, mais presença. Sou tudo aquilo que não tenho, não vejo, não sou. Vou com muito mais do que preciso e carrego menos do que gosto. Pode ser teimosia. Ou só burrice. Só é certo que quanto mais quero, menos faço por onde.

Às vezes é só falta de tentativa. Outras, até demais. Não que seja demais pro mundo, mas é tanto quanto acho necessário. Afinal, cada caso é um caso.

Tem dias que nem vale a pena, mas insisto. Há outros em que, tivesse eu um pouco mais de coragem, fariam a vida caminhar no perfeito ciclo das boas fés. Mas é difícil: tudo quanto fácil é complexo. E se é árduo, gosto mais: mesmo quando esse custo é só visto e sentido por mim.

O que entendo é: de uns tempos pra cá, tudo o que faço, digo, sinto é em primeira pessoa. Nem vergonha disso tenho mais. Pode ser crescimento, envelhecimento ou regressão. Só sei que tá assim e ponto.

Todo dia acordo na ânsia do não querer: sonhei contigo mais de sete vezes seguidas entre sonos profundos, sonecas vespertinas, cochilos de olhos entreabertos e daqueles dormires mais que necessários. Foram assim mesmo: seguidos e constantes. De verdade, não me lembro em todo o que, mas sei que significam.

Pelo menos o espero.

Mas é que todo dia - mesmo que não saiba e sequer lembre de mim - você está presente. Essa presença de ausência que fere, corta, mata - mas faz crescer tudo aqui que emudece.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Dormente

Dia desses como ontem fui me dar conta: conheço desse tipo. O tipo que bate forte que assusta e aí a negativa é pronta. Mas então, contrariando o senso comum, não volta: esvai. E desse esvair-se cria apego. Não sei se é isso que divulgam como a autossabotagem ou se é mesmo só aprendizado. Mas sei que é fator definitivo na minha conquista: abandono.

Não que seja desses abandonos primitivos, cheios de porquês e com sentido de não querer o ato. Mas o abandono involuntário, irracional, dos que não dizem nada.

Pode ser só curiosidade. Ou mesmo a carência. Na verdade, amo que me amem e me digam. O problema é que meu limite de moderação seja talvez muito pequeno. Não aceito com exagero. No entanto, não entendo a ausência. E entenda-se: ausência e abandono são totalmente diferentes.

Eu entendo desse tipo: não é por mal. Na verdade, por bem também não é. É só um medo. O medo de mostrar-se fraco, impotente, de perceber na explanação a angústia do outro.

Eu vivo nesse tipo. Sei que só é preciso um minuto (até menos) para que tudo mude.

Eu sou desse tipo. E sei bem como é cruel o sono.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Já criou raizes

E nem é que tenha sido surpresa. Ao menos não das grandes. Muito menos das inéditas - já que num curto espaço de tempo todas as decepções pelas quais jamais achava ser possível passar vieram. E foi assim, numa passagem rápida, dolorosa e rodeada por escândalos.

Pelo menos dessa vez soube gritar. Não do grito incessante, trincado, agudo. Mas daquele sincero, amargo e racional. E entenda: amargura não é de todo ruim. É só força que bate pesada, numa quebra de expectativa, e depois adoça, gera a leveza.

Só que o trabalho chega na inconstância dessa leveza. É assim como se sentimento fosse coisa que se pode jogar pelo ar. E aí vai, levado pelo vento, numa cadência flutuante, num movimento entrecortado, num ziguezague impertinente. E entenda a força: incômodo.

Mas aí é que nem sabe mais de que modo agir. Compreende que a insistência é caminho chato, então pondera. Concorda que passividade é caminho burro, então ameaça corrida. E aí absorve a relatividade como caminho chave, então vacila. Um titubear desses que não ajuda. E os caminhos entrecortam-se todos.

É então que para e pensa: isso aqui está confuso. Escrito para dois destinos além do pessoal. E são destinos impossibilitados. Mas não da impossibilidade concreta do não amar, e sim do espaço e tempo. Cada tempo é um tempo, sabe. Mas o espaço é limitante cruel, abusivo, encrustado. Não que em todas as vias seja ele o problema. De modo algum - o segundo mora ao lado.

A questão é que os limites que impõe a si são barreiras intransponíveis. Ao menos enquanto acredita.

domingo, 25 de julho de 2010

Não, não foi tranquilo.

Já tentei encarar, mas não é possível: "cérebro maquina, palavras, sentidos, corações". Isso é a verdade. E nada de tentar encarar as outras perspectivas: me peguei encontrando significado em qualquer letra que tenha no sentido um pouco de pesar. E é exatamente dessas conclusões de razão confusa em função de trabalho constante de impulsos.

E o pior: impulsos estimulados por fatos vários. Vários, reais, confusos e aleatórios. De um modo tão sutil que gera culpa. Daquelas culpas que nem se sabe de onde vem ou se vão. De pedir perdão pelo que não fez e até pelo que faria. De impulso impiedoso dos que geram a paralisia.

É então que entendo que o mais estranho de uma dor é o esforço tremendo que se tem em não mostrá-la. E esconder assim não é por medo do sofrimento moral, mas das circunstâncias que um mostrar-se demais poderia gerar. Não que também sejam todas ruins, no entanto boas pra um peito cheio de orgulho certamente não são.

Aí que chego no ponto da vaidade. Essa é minha: é verdade que não chego a criar mentiras externas, mas confesso a existência de auto enganos. Desses que, se externados, passariam despercebidos e mesmo encarados como realidade absoluta. O que geraria medo, confusão, distúrbio, delírio. E aí a volta da máscara do medo. E a transgressão de uma vaidade máxima, dessas a que se olha até com certa pena.

E de novo grita em queixa. E de novo dorme inquieta. E de novo nem um olhar de apavora mete. E de novo me sinto besta. Sem querer o sentido da auto destrutiva, por favor.

sábado, 10 de julho de 2010

"Nada tem que dar certo
Nosso amor é bonito
Só não disse ao que veio
Atrasado e aflito
E paramos no meio
Sem saber os desejos
Aonde é que iam dar
E aquele projeto
Ainda estará no ar..."

Eclipse Oculto, Caetano Veloso

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Da hora que deu por si

É que às vezes dá raiva. Raiva grande, abrupta, cruel, ilícita. Dessas raivas de gritar, rasgar, correr, bater. Uma raiva que não cabe, não mede, não mora. Uma raiva irracional.

Não que algum dia a raiva ande de mãos dadas com a razão, mas é não no sentido de paixão. É uma crescente múltipla de pensamentos vários sobre um ponto que sequer cabe pensar. Dessas raivas repentinas de sentidos vários e nenhum. Uma raiva de não saber.

É que às vezes dá medo. Medo forte, intrometido, revirado, desumano. Desses medos de tremer, observar, fugir, esconder. Um medo que fere, doi, assusta. Um medo incondicional.

Não que alguma vez o medo busque condições, mas é que busca subterfúgios. É uma base de corpo não sólido montada sobre uma pilha de rememórias inexistentes. Desses medos renegados e absorvidos. Um medo de refazer.

É que às vezes vem a histeria. Histeria alta, corrida, desmedida, interna. Dessas histerias de arrancar, pulsar, fruir, transcender. Uma histeria que quebra, corroi, ttransborda. Uma histeria arrebatadora.

Não que alguma forma a histeria passe dos limites do não, mas é que só chama atenção. É um chamariz de forma tensa numa ambiência de sentidos que se repetem. Dessas histerias caladas e difundidas. Uma histeria do saber.

É que às vezes vem o não. Não prisão, não concentimento, não conformação, não afirmação. Desses nãos que fazem crescer.

Assim espero.

domingo, 4 de julho de 2010

Confesso

A verdade é que o que sempre busquei foi a incompreensão. Não daquela explicita, que profere as burras palavras do não entender. Mas daquela de mentira inteligente, esquizofrênica, agressiva, que não se aceita como tal. Sempre quis causar algum distúrbio.

Talvez assim consiga entender essa mania de enjoar de tudo fácil. Que é fácil e de modo fácil. Tudo bem, não é um enjôo assim abrupto, acho até que demora um tempo - o que pode dar a falsa ilusão de teimosia. Mas também não ultrapassa os limites do não querer. Se é dito não, acabou.

Pois então, no dia em que resolvi dar o último não, parece que foi um fim definitivo de uma fase. A fase de saber estar no topo das relações. Desde então, a única coisa que consigo fazer é repetir o questionamento. Voltas e voltas em cima de uma mesma questão, de um mesmo ponto que, analisado friamente, já é passado. Mas não, esse é o novo momento: o do aprender a viver conjugando o platonismo e a submissão ao que já julgou nada. Pode parecer antiquado, eu sei. Mas é que acho que comecei a vida do avesso: sem medos.

É bem verdade que esse suor frio já apareceu algumas vezes. Sempre odiei. Só que dessa vez pareceu bonito, junto com a taquicardia, a mudez, a tonteira e as ações de criança boba. Nunca me pareceu real a existência desse estado, sempre achei besteira. Errei.

E como é bom um tropeço! Não dos tropeços falhos, que se sai xingando sem sequer ganhar ferida de cicatriz descente. Mas daqueles fortes, dos que caem do alto em superfície não plana. O tropeço do atrito, não do escorregão. O tropeço de criança, que não tem equilíbrio e se joga. E seja como for: a dor ainda não é conhecida.

Já comecei sem medo. E agora já não sei mais se foi por não amor ou amor demais. Fui criança plácida, de choro curto e discurso infalível. Olhar psicótico, movimentos leves mas exatos e sentidos corretos. Comecei numa calma incompreendida pelos que ainda não sabiam de sentimento. Talvez por isso mais semelhante aos adultos tão distantes do grupo ao qual pertencia mas odiava. Já comecei adulta.

E foi um crescimento falho, já que a falta de medo não deixou aprender que nem tudo pode dar certo. Mas tudo bem, esses dias eu senti. Toda a inocência caiu pesada e quase me fez desmaiar. E foi desses desmaios físicos mesmo, dos que mente não controla e sentimento brinca. Os sons pareciam sumir, imagens voar, vento cessar, bala acabar e tudo que vinha era o seu cheiro. Um cheiro desses que se sabenão existir em nenhum frasco de químico.

A verdade é que dessa vez fui surpreendida. A incompreensão não foi proporcionada por mim. Bem verdade que nem por ninguém. Mas só pra constar: hesitei sem querer.

Que venha mais uma vez.
"Deixai que os fatos sejam fatos naturalmente
Sem que sejam forjados para acontecer
Deixai que os olhos vejam os pequenos detalhes
Lentamente deixai que as coisas que lhe circundam
Estejam sempre inertes como móveis
Inofensivos para lhe servir quando for
Preciso e nunca lhe causar danos
Sejam eles morais físicos ou psicológicos"

Corpo de Lama, Chico Science & Nação Zumbi

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Dos argumentos

Uma vez mais a explanação. Duravam três minutos e meio cada discurso. Longos discursos em se tratando de assuto tão falho.

Muitas foram as tentativas de explicação do correto. Parou, analisou: parece que tudo é assim tão certo. Esqueceu-se do convencimento próprio.

Calma, respira. O mundo é um moinho lento. Não te afoba, o tempo passa devagar pros que têm olhos e coração. A cabeça pesa, pondera. Mas os sentidos pulsam, espera. E vem assim, num turbilhão monótono, no paradoxo da espera dos que acreditam sempre na fila.

Não existem filas. Não te esperam no fim da linha, muito menos formam-na. Ninguém sabe quando vai acontecer e se vai. E se foi. E se ia.

Repensou nos argumentos. Todos falhos e verdadeiros. Não da verdade lógica que, de alguma forma, conseguiu mascarar os anseios ideológicos, mas da verdade impulsiva, que se permite a chance da múltipla mutação. Reinveste no pensar.

A razão parece mesmo pesar. Mas é mentira. É a face da vergonha que encara sem conseguir olhar nos olhos: um sentido. E só fala em sentido porque sentimento é palavra vergonhosa. Não da vergonha característica da tentaiva da pureza vã, mas o contrário. Uma verdade tão inocente que, em corpo daquela que se acredita tão sábia, não cabe. A inocência não é ignóbil, mas sofridamente afastada da razão.

E que razão estúpida. Encobre verdade, esconde vontade e oprime o impulso.

Queria gritar sete vezes que partiu em busca. Não conseguiu.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Qual?

O estranho de se pensar em cor preferida é não saber exatamente em que esse gosto maior se aplica. Sempre digo vermelho. Não que seja a mais bonita a olhos ou mesmo sentidos. É forte. Me faz parecer alguém assim.

Não que não goste. Mas é difícil alguém admitir que a preferência está na paleta de tons pastéis. E, no entanto, se pensa na memória, o sépia é a cor do sentido, do real, do gosto mais bonito.

Aí vêm aqueles dos corações gelados. Os que me dizem sempre que a beleza está no roxo ou azul. Numa frieza triste - o que já assume um paradoxo real e complexo (que só usei porque dois x numa oração soam bem) - de quem se mostra em momento de reflexão. Mentira.

É engraçado que mesmo os tristes amantes da frieza têm seus momentos picos de alegria: a de se mostrar bipolar e complexo. Abruptamente adotam o laranja e o amarelo. Cores brutas. Só é deleite dos tristes porque faz os olhares sofrerem. Um amarelo na luz e pronto: sou a base do sofrimento alheio.

Não, vermelho não é bruto. Valente.
Marrom não é velho. Memória.
Roxo não é triste. Sádico.
Verde é até que cor. Limitado.

Eu ainda não sei que cor me apetece. Mas, dentre as opções, prefiro o valente. Me cura.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Num dia assado

Ele se pega ouvindo a si em voz rouca. Um rouquidão de semelhança mais em quimera do que em voz que cessa no gritar. Era a voz da consciência. Não da consciência crítica e carcereira, mas consciência de si.

De que se sabe em si.

Ele se pega seguindo a passos largos o barulho do dragão. Que de dragão vinha em imagem de ilusão infantil. Não infantil de passado, mas de quem ainda não soube como crescer.

De que não toma conta do eu.

Ele se pega desentendendo o que em volta há. E de relance nota-se a realidade das opções e do livre arbítrio. Não o arbítrio do maniqueísta que só sabe se é bom ou ruim, mas aquele das várias medidas que em um peso pode caber. E sabe instintivamente que se o peso da decisão é maior que o resultado, sete ou oito feridas serão abertas.

Só não sabe se é par ou ímpar.

Ele se pega desacreditando na dor alheia. Não porque não exista, mas simplesmente porque não vê. E não é de uma cegueira imediata, mas daquelas que se pratica até chegar ao estado pleno de exaustão.

E que palavra coerente essa.

Ele se pega dizendo "adeus e até breve". Nem se dá conta do paradoxo imposto a si ao contemplar duas saudações num só sentido. E não é uma ignorância da qual necessariamente se envergonha, afinal tudo o que lhe serve faz a si por bem.

E que bem que causa mal.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Es war doch nicht böse gemeint

Era uma ferida que não sangrava. Ficava ali, cheia de cascas insistindo pra serem arrancadas. E eu, num sadismo masoquista, arrancava aos poucos - já que assim a dor era prazer maior. E melhor: arrancando sempre cresce mais. E maior. E mais doloroso. E melhor. E melhor.

Mas ainda sem sangue. Era esse o desafio: na frieza do prazer indolor (sim, porque de tanto prazer a dor cessa e assim justifica o autossacrifício inexistente). Até porque sempre tive muito mais dor visual que propriamente tátil. E esse sangue que não vem. Nunca vem. Só me faz ferir mais, arrancar mais, gostar mais. Mas nunca saciar a ânsia de vida.

Me pego às vezes pensando se de fato quero chegar ao que conclui. Porque sim, sei que a vida é ciclos. Mas qual é o fim de um ciclo. Já pensei - há não muito - que eram em sete. Só que então me dei conta de que era simplesmente o convencimento do clichê. Sim, o velho clichê do sangue que sempre jorra e da carapuça que sempre veste. Verossímil e latente, mas chato. E aí, chego sempre à conclusão de que nunca quero que acabe - apesar de sempre reclamar à vinda rápida do fim.

É desses mau humores eternos que até duas horas atrás eu estava acreditando - por um longo período - ter expugnado. Mas não. Percebo agora que me travisto de bons sorrisos só pra lutar diariamente contra a natureza indigesta, incompreensiva, predatória e preconceituosa que, desgraçada e indubitavelmente me origina.

E foi então, aceitando que doi, que a ferida sangrou. Mas só molhou a ponta do dedo indicador.

Que sem graça.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Meia lágrima

Se pegou pensando na vida.
Não queria repetir erro passado.
Não queria mais pensar nas negativas e muito menos repensar rumos.

Se pegou pensando nos meios.
Não queria refazer caminhos.
Não queria mais acreditar nos ciclos e muito menos nas voltas.

Se pegou pensando nas vistas.
Não queria reolhar vidas.
Não queria mais vetar as prerrogativas e muito menos as vontades.

Se pegou pensando nos tempos.
Não queria remendar os furos.
Não queria mais fechar as portas e muito menos as janelas.

Se pegou pensando num dia.
Não queria realizar sonhos.
Não queria mais acordar de súbito e muito menos de angústia.

Se pegou pensando nos momentos.
Não queria reviver desconforto.
Não queria mais saber de muito e muito menos de nada.

Se pegou pensando no retorno.
Não queria reabrir com chaves antigas.
Não queria mais o sentido da incompletude e muito menos do vazio.

Se pegou pensando e repensando. Concluiu: pára e vive.

Pra frente.

terça-feira, 27 de abril de 2010

"Deixe em paz meu coração
Que ele é um pote até aqui de mágoa
E qualquer desatenção, faça não
Pode ser a gota d'água..."

Gota d'Água, Chico Buarque

Depois daquela noite

Do que é misto de medo com vontade.
Do que dói com desejo.
Do que sente com calor. E frio.
Do que chega de mansinho, querendo nada.
Do que sai de sopetão, abandonando palavra.
Do que me lembra mar.
Do que me trouxe sol.
Do que acariciei horas sem sentir.
Do que proferi palavras vãs - o amor é real.
Do que desacreditei.
Do que relutei.
Do que fugi.

Pro que vou correr sem medo e com vontade.
Abraçar em braços de acalento na chuva ou no sol.
Segurar a mão que chega leve.
Bradar ao ventos que não se vá.
Mergulhar profundo.
Deleitar em cada minuto.
Sentir nos dedos a pele.
Reafirmar promessas.
Descumprir palavras antigas.
Receber sem titubear.
Amar.

Só mais uma vez...

domingo, 25 de abril de 2010

Com as armas de um olhar

Que é santo escolhido já é de bom tamanho saber. Que escolha é fruto de sincretismo, melhor ainda. Mas que entender o quão mágico se torna o movimento - uma vez que ceticismo sempre fora promulgado requisito básico de pensamento - isso sim importa.

Sete vezes arrepiou. E não foi de arrepio visual - já que nunca creditou as pinturas simbólicas do azul celeste em composição com dourado. Tudo bem que vermelho sempre foi cor que marcou, mas o sentido não estético, é físico. E também não é um físico moral (e muito menos ditador). Mas, o que importa é que não foi isso. Arrepio de sentidos, jogando fora angústias.

E não, não é arrepio de devoção - disso nem em infância cristã teve o direito de apreder.

É, na verdade, uma mistura de tudo - talvez. Do poder olhar à sua volta e entender que, apesar da sujeira, das lágrimas ricas da gente pobre, do calor das labaredas, do significado das cores em cera, da importância dada a cada fósforo que risca um pedido, tudo isso é um pedaço do máximo de beleza que pode surgir do ser humano. Sim, é de olhar pessimista sempre achar que se vem de nós beleza pura não há. Mas é que sempre aprendeu a olhar assim: foi guiada dentro dos moldes do que é justo, de entender dois lados de uma mesma moeda, de justificar mal com bem.

Eis que se cobre abruptamente com o véu da vergonha. Vergonha de ter acreditado sempre que as fés são mundanas e que sempre há sujeira por onde passa. Vergonha de ter se iludido numa razão que sempre se auto ordenou como sentido único e não crente - o que, por fim percebeu, não passa de um pequeno e mesqunho ato de promoção de fé própria. Vergonha de ter injuriado todo ato de bondade e depositado nele toda a proposta da ganância. Vergonha de ter crescido lendo escolas, ouvindo boatos históricos e reproduzindo repensamentos. Vergonha e mais vergonha daquilo que sempre acreditou correto num ceticismo crente.

Segurou bem na ponta do véu num sentido de arrancar. Cinco vezes repensou. Dois dos pensamentos seguiram a lógica do acordar e gravar no olhar as imagens do dia. Seleção. O véu foi mais forte: envergonhava-a do fato de querer censurar o mundo em compilações pictóricas diárias. Sabia então que arranccando véu, arrancava a própria cabeça - o que não considerou de todo mal.

Mas é que, no fim, ela sabe muito bem que São Jorge lutou, mas que não há dragões no Brasil.

domingo, 18 de abril de 2010

"And a crowd of young boys they're fooling around in the corner
Drunk and dressed in their best brown baggies and their platform soles
They don't give a damn about any trumpet playing band
It ain't what they call rock and roll
And the Sultans... yeah the Sultans play Creole"

Sultans of Swing, Dire Straits

quinta-feira, 1 de abril de 2010

"Você só dança com ele
E diz que é sem compromisso
É bom acabar com isso
Não sou nenhum pai-joão
Quem trouxe você fui eu
Não faça papel de louca
Pra não haver bate boca dentro do salão"

Sem compromisso, Chico Buarque

Dos sentidos

Porque é até engraçado pensar que a a negativa é, na verdade, prerrogativa de convencimento. Porque se se diz um não num momento em que se espera talvez, o desafio é lançado sem muito esforço e tudo que se tem que fazer é acreditar ou não no que se quer.

Mas eis que surge a desvantagem: quando não se quer o que se encontra. Quando de argumentos convincentes discurso de corpo oposto é composto. É então que a fraqueza aparece - uma vez que de esforço real nunca foi preciso e, portanto, a falta de exercício.

Se pegou lamuriando. Das lástimas que, à priori, acreditou jamais poder sentir. E mais: só era capaz de fazer sentir. Nunca para si, mas de si para o mundo. Um mundo que caiu repartido em dois corações e uma cobra. Agulhada venenosa.

Avançou sete passos e sentou de novo à mesa: não acreditou na dor do peito. Repensou e aliviou. Três segundos mais e o peito explodia tão forte que nem a força do mantra "tudo passa, tudo passará" conseguia aliviar. O que dizer então de parar. Jamais.

Descobriu então o que é sentimento forte e real. Um ciúme.

segunda-feira, 29 de março de 2010

"We'll we'll meet again,
Don't know where, dont know when.
But I know well meet again, some sunny day"

We'll meet again, Vera Lynn

http://www.youtube.com/watch?v=wxrWz9XVvls


"Well, i woke up this morning, i got myself a beer
well, i woke up this morning, and i got myself a beer
the future's uncertain, and the end is always near"

Roadhouse Blues, The Doors


To a strawberry popcorn, with love.

I just don't wanna hear you saying: I feel no pain.
I just don't wanna see you praying: Such a child!
I just don't wanna feel you forsaking: No love anymore.
I just don't wanna meet you weeping: Back to the begining.

Just fly off. Burst - since you are a corn. Popcorn.

And anytime, as you need, hold my hand. I show you painted ponies and ice cream castles - if it makes you smile. And if not, fancy a pint to get it better!

Anywhere, anywhen - i let you jump on my shoulders to see the pageant better than me for a moment. Just to make me happy being happy.

sábado, 27 de março de 2010

Arroubo

Está aí um problema: o pedestal. Se digo que um é o e não o é um é porque sei exatamente o que quero dizer. E mais: se é em primeira pessoal desde já é porque não é de outro ou algum. Esse é de verdadeiro mim.

Acreditei que enfim fosse maior. Deslumbrei, reacendi, assustei, relutei. Mas foi de relutância mínima, já que a certeza de que finalmente era nova a fase que aproximava fazia parecer que qualquer tipo de decisão contra tornaria a beleza impossível. E, pra falar a verdade, do que mais gosto é feito de beleza e novidade. Num conjunto inseparável.

Não adianta. Qualquer resquício de passado, por mais bonito que seja, me assusta. E qualquer pedaço de novidade, se pouco bonita, me afasta.

Mas então cometo erros: acredito na beleza eterna. Etérea. E confundo o que é belo com o que é novo e acabo quase sempre acreditando que tudo vem assim num conjunto. E aí elevo, enlevo. Coloco tudo num patamar que vai acima da cabeça, arromba peito que se envergonha de ser aberto e cria escudo do mais duro metal, desfaz os laços de lembrança que insistiu um dia em fazer achando que a importância era máxima.

Então, no fim, sucumbo à vontade de um passado de que tanto fujo e acho feio mas que me aparece em novas formas com novos feitos. E recomeça o ciclo.

O pedestal já foi montado. O que falta é o que colocar nele.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Invólucro

Previsão de boas novas. Mas há um porém: as que se querem considerar velhas ainda machucam. E não é um machucar bruto, daqueles que derrubam no chão, mas agudo - que fura pele e ainda mexe pra ver se sangra de leve.

É engraçado observar o modo como todos tentam se esquivar do mal aparente. Olham de leve, fingem que não viram que é bonito e, no fim, passam com olhar contrário pra mostrar que não estão vendo de novo - porque só de olhar já afeta. O maior problema é que nem sempre o mal aparente é passível de esquivos. E, pra falar a verdade, por mais que não se admita, dá até prazer. Daqueles prazeres maiores dos que não se pode comentar.

Mas a gente sempre comenta. E, no fundo, por trás dos olhares absortos de ouvintes, o que se esconde lá no fundo é a vontade de sentir igual. e, no fim, sentem.

O maior desajuste é o dos tempos. Porque se um está na embriaguez da adoração soturna, o outro tá no quase e o últimona inveja. e o ciclo anda... então nada se compassa.


E, no fim, cada um sente de um modo e numa hora. A minha, por enquanto, está buscando a razão mais que nunca - até porque antes era natural.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Sharp objects

Waiting thousands years for this. Because it seemed always virtual - only happening in others' life - decided not to believe. Started to live censuring every small semblable of feeling and judging all the things which were made in pairs.

There came the age of cynicism.

All the "once upon a time"'s were re-read and re-watched as foolishes' people kind of. One day, took all of them form that old good memories's box, tore in small pieces, set fire and blew all the the dust in the wind. In a flash came to the mind the poetic meaning of that action. Although, as fast as it can, gone away bringing back the skepticism learned during the non feelings time.

Think that's enough. The continuance of this story has no difference from those Sandra Bullock's romantic comedies. So, better stop just saying that a new GREAT memories' box was made. With a not necessarily happy end - the end's far.