domingo, 25 de abril de 2010

Com as armas de um olhar

Que é santo escolhido já é de bom tamanho saber. Que escolha é fruto de sincretismo, melhor ainda. Mas que entender o quão mágico se torna o movimento - uma vez que ceticismo sempre fora promulgado requisito básico de pensamento - isso sim importa.

Sete vezes arrepiou. E não foi de arrepio visual - já que nunca creditou as pinturas simbólicas do azul celeste em composição com dourado. Tudo bem que vermelho sempre foi cor que marcou, mas o sentido não estético, é físico. E também não é um físico moral (e muito menos ditador). Mas, o que importa é que não foi isso. Arrepio de sentidos, jogando fora angústias.

E não, não é arrepio de devoção - disso nem em infância cristã teve o direito de apreder.

É, na verdade, uma mistura de tudo - talvez. Do poder olhar à sua volta e entender que, apesar da sujeira, das lágrimas ricas da gente pobre, do calor das labaredas, do significado das cores em cera, da importância dada a cada fósforo que risca um pedido, tudo isso é um pedaço do máximo de beleza que pode surgir do ser humano. Sim, é de olhar pessimista sempre achar que se vem de nós beleza pura não há. Mas é que sempre aprendeu a olhar assim: foi guiada dentro dos moldes do que é justo, de entender dois lados de uma mesma moeda, de justificar mal com bem.

Eis que se cobre abruptamente com o véu da vergonha. Vergonha de ter acreditado sempre que as fés são mundanas e que sempre há sujeira por onde passa. Vergonha de ter se iludido numa razão que sempre se auto ordenou como sentido único e não crente - o que, por fim percebeu, não passa de um pequeno e mesqunho ato de promoção de fé própria. Vergonha de ter injuriado todo ato de bondade e depositado nele toda a proposta da ganância. Vergonha de ter crescido lendo escolas, ouvindo boatos históricos e reproduzindo repensamentos. Vergonha e mais vergonha daquilo que sempre acreditou correto num ceticismo crente.

Segurou bem na ponta do véu num sentido de arrancar. Cinco vezes repensou. Dois dos pensamentos seguiram a lógica do acordar e gravar no olhar as imagens do dia. Seleção. O véu foi mais forte: envergonhava-a do fato de querer censurar o mundo em compilações pictóricas diárias. Sabia então que arranccando véu, arrancava a própria cabeça - o que não considerou de todo mal.

Mas é que, no fim, ela sabe muito bem que São Jorge lutou, mas que não há dragões no Brasil.

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