quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

NADA

A fé cega é o mal da raiz. Gritar, espernear e chamar de feio não convencem. Ao contrário: compete.

Todo dia vejo (entenda-se por ver ler, olhar e observar) e sinto (por favor: na pele, na cabeça e no coração) o apelo pela vontade de pertencer. Mas o pertencer do ódio, mesmo quando travestido de palavras como amor, gratidão, humanidade e compreensão. Ninguém se entende e isso é o que se quer.

As palavras são duras, mas não são suficientes. A risada é juíza, a bufada é irônica e o ato é excedente. A sofisticação do egoísmo é latente e, pior, de todos os lados. Mas se os lados são cara e coroa mesmo, não é difícil entender o porquê.

Por cara entende-se olho, nariz, boca e tapa. Coroa é ouro, contestável, inimigo. E os dois estão presos, costa a costa, compartilhando espinha dorsal e com altas tendências suicidas que, por falta de coragem e excesso de orgulho, culminam apenas em pequenos atos mutilatórios, que se necessitam aparentes para que todos vejam.

E vemos. Todos vemos. Todos os dias vemos surgir cantos de boca eriçados, inspira e expira contundentes, deleto, deleto, deleto e assim, enfim, falo sozinho.

E quem é deus senão palavra? A palavra expansiva, que toma num arroubo toda a significância do ser e, como num milagre, assertivamente chega a todos que conhecemos. E chega bem, chega aceita e é quente. Pelo menos a um e os cem mais que o cerca.

A vara está cutucando os tigres só pra ver se eles, bobos que são, atacam e derramam o leite para no fim dizer: deve-se chorar pelo leite que derramaram. E a culpa é toda deles, tigres malvados, animais insensíveis e feras irracionais, que não pertencem ao plano nem sabem a palavra. Palavra divina, palavra racional e relativa única e exclusivamente ao polegar opositor que segura a vara.

Nem quem inventou deus nem quem inventou a razão: no facebook ninguém é sábio nem humano.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

2 de fevereiro

Parece até ferrugem, mas é puro esquecimento. Porque quando o vento vai em popa a âncora perde peso e parece nem existir. Desfigura.

Houve dia desses (ou esses dias) muitas fábulas quase vividas e de merecimento a contar. Mas o fluxo é intenso e a correnteza não cessa. Mas pior mesmo é o vento, que soprando assim levinho nem deixa o sol queimar. E aí é isso: dia seguinte e pele em abrasão.

Há muito tempo que não olhamos pro mar. Assim dessas miradas fixas, de sonhos inconstantes e o desejo de além. Não que os sonhos não estejam e nem sejam fortes e encantadores. Na verdade, tá assim.

Começaria agora um discurso da saudade - aquele velho e eficiente - mas a verdade é que não tem. As condições estão favoráveis: a contemplar, a nadar e, até mesmo se quiser, a sumir. Não tem turbidez: hoje o mar é azul até no pé.

E a onda traz memórias que em segundos se vão: chegando alegram, partindo orgulham.

Hoje nem o céu vai levar o chão: no horizonte tátil os olhos fecham e deixam a água bater leve, brilhante e tranquila.

É que tá pra peixe, baleia e sereia.