sexta-feira, 28 de maio de 2010

Num dia assado

Ele se pega ouvindo a si em voz rouca. Um rouquidão de semelhança mais em quimera do que em voz que cessa no gritar. Era a voz da consciência. Não da consciência crítica e carcereira, mas consciência de si.

De que se sabe em si.

Ele se pega seguindo a passos largos o barulho do dragão. Que de dragão vinha em imagem de ilusão infantil. Não infantil de passado, mas de quem ainda não soube como crescer.

De que não toma conta do eu.

Ele se pega desentendendo o que em volta há. E de relance nota-se a realidade das opções e do livre arbítrio. Não o arbítrio do maniqueísta que só sabe se é bom ou ruim, mas aquele das várias medidas que em um peso pode caber. E sabe instintivamente que se o peso da decisão é maior que o resultado, sete ou oito feridas serão abertas.

Só não sabe se é par ou ímpar.

Ele se pega desacreditando na dor alheia. Não porque não exista, mas simplesmente porque não vê. E não é de uma cegueira imediata, mas daquelas que se pratica até chegar ao estado pleno de exaustão.

E que palavra coerente essa.

Ele se pega dizendo "adeus e até breve". Nem se dá conta do paradoxo imposto a si ao contemplar duas saudações num só sentido. E não é uma ignorância da qual necessariamente se envergonha, afinal tudo o que lhe serve faz a si por bem.

E que bem que causa mal.

Um comentário:

Cassia disse...

Uou! Adorei saber do seu blog! E eu adorei o blog.
mas enfim, hit the road Jack.....vamo que vamo! :)

Mais um tudo de bom pra você....ahh!