"Eu Não Sou da Sua Rua
Marisa Monte
Eu não sou da sua rua,
Não sou o seu vizinho.
Eu moro muito longe, sozinho.
Estou aqui de passagem.
Eu não sou da sua rua,
Eu não falo a sua língua,
Minha vida é diferente da sua.
Estou aqui de passagem.
Esse mundo não é
Meu, esse mundo não é seu"
Já não sabe mais se acredita na pequenez do mundo ou entende logo de uma vez que tudo passa. Se ouve a música dez vezes ou corta logo todos os fios que mantém o contato breve forte.
Tentou não se importar. Rasgou os lenços, apagou os riscos, emudeceu-se. Correu no sentido oposto o máximo que pôde. Mas, no fim, percebeu que máximo é ainda pouco. É preciso tornar-se sã. E salva.
Uma vida vazia de pensamentos vãos é o que quer. Mas cada passo que dá em direção ao lado oeste, o leste suga em mais uma das pequenas e quase imperceptíveis demonstrações de afeto. Então retorna.
Estaca zero. Como se tudo fosse ontem.
Origina novas formas de pensar o já pensado, novos sonhos de sonhar o já sonhado e novas perspectivas de olhar o já olhado. É,em princípio, proveitoso. Mas gasta horas, dias, semanas. Gasta assim na espera do olhar - que de olhar verdadeiro é provável que nunca mais venha. E, no fim, contenta-se com meia palavra.
Assim, no sorriso, na expressão que alivia, no corpo que assenta. Vem então a memória do futuro: estarei de passagem. A diferença será que, enfim, acreditarei: esse mundo é meu.
Quanta bobagem.
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